"Pobres das esperanças que tenho tido, saídas da vida que tenho tido de ter! São como esta hora e este ar, névoas sem névoa, alinhavos rotos de tormenta falsa. Tenho vontade de gritar, para acabar com a paisagem e a meditação. Mas há maresia no meu propósito, e o baixa-mar em mim deixou descoberto o negrume lodoso que está ali fora e não vejo senão pelo cheiro.
Tanta inconsequência em querer bastar-me! Tanta consciência sarcástica das sensações supostas! Tanto enredo da alma com as sensações, dos pensamentos com o ar e o rio, para dizer que me dói a vida no olfacto e na consciência, para não saber dizer, como na frase simples e ampla do Livro de Job, "Minha alma está cansada de minha vida!""
Excerto do "Livro do Desassossego"
Fernando Pessoa
Por onde anda o sonho é lugar que desconheço, preciso de te pesquisar na memória e só depois adormeço
Bem no centro da minha própria solidão amaldiçoo tudo e todos que se tentam aproximar.
Entre estas quatro paredes reforço o desejo de me atirar...
Perder sem encontrar.
Desaparecer onde não há vida nem mão para me salvar.
Bem no centro da minha própria imaginação rezo para que tudo possa desaparecer.
Sob este tecto não quero mais sofrer...
Chorar sem perceber.
Evaporar onde não há vida nem mal em morrer.
Bem no centro de uma enumeração tenho por ordem tudo o que estou a sentir.
Longe de uma janela fechada que a custo quero abrir...
Estilhaçar para sair.
Rumar para onde acaba a vida e assim desistir.
No mundo em que vivo não há espaço para mim, no mundo em que vivo não há ar para respirar; cambaleo, deambulo, vagueio à procura do fim, sem paz que me possa libertar. No mundo em que vivo apenas um ser existe, no mundo em que vivo nada mais há a fazer; a ideia de libertação persiste e tudo me leva a esquecer. Esquecer que o futuro é o tempo a conjugar, esquecer que também eu sou alguém, porque eu continuo aqui para te amar e isso não é para esquecer. Neste mundo, o da minha imaginação, existem anjos e fadas encantadas, foram eles que te colocaram no meu caminho; aqui não tenho medo, não habito na solidão, angústias são fases passadas e o sofrimento não é o que sinto. Porque tu és o ser habitante, ès o ser angelical, ès o morador do meu coração, o protector e também a salvação. No mundo em que vivo apenas para ti há lugar, é o suficiente para atingir a plena felicidade, é o suficiente para me realizar, é tudo e muito, muito mais.
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o que aqui revelo é para ficar entre nós