O sol entrou devagarinho por entre as cortinas que, suavemente, levitavam ao sabor do vento. As paredes, tão brancas, fizeram-me pensar que estava numa outra dimensão... Nada do que me rodeava eu conhecia e dei comigo a pensar no porquê de estar ali...
Fazer "viagens relâmpago" nunca fora um objectivo mas, pelo sim, pelo não, seria um bom momento Kodac (para mais tarde recordar).
Sentei-me na cama, sem pressas; o frio fez-se sentir e a minha pele arrepiou-se. Ali ao lado, numa cadeira, um robe estava pousado como se soubesse que iria ser preciso.
Os meus pés começaram a descobrir o chão gelado na esperança de encontrar algum sinal d'Ele; caminhei pelo quarto e por fora do quarto à espera de o ver sair da sua caixa mágica... Foi então que ouvi...
Algures, não muito longe dali, uma porta abriu-se e eu vi-o.
- E então?
"E então?" sempre fora a sua maneira de dizer olá e eu sempre achei piada mas nunca gostei tanto de ouvi-lo como naquele momento.
Como resposta encolhi os ombros. Nunca fui de grandes conversas pela manhã, ele sabia, e partiu rumo à máquina do café que sempre ali estivera mas que só naquele instante reparei.
- Tive de ir comprar algumas coisas, não havia nada cá - explicou.
Encostei-me à pequena janela da pequena cozinha e fiquei a olhar... Do outro lado de uma pequena rua as casas pareciam todas iguais, feitas de pedra, nenhuma com mais de um rés do chão e primeiro andar, pequenas janelas, algumas com pequenas varandas e a rua. A rua, feita de paralelos, era estreita e inclinada, mais à frente uma pequena praça, com uma fonte no meio, acolhia as poucas pessoas que por ali passavam.
Ele tentava descortinar o segredo de fazer um café e tanto tentou que conseguiu. Em poucos minutos o cheiro invadiu a pequena divisão e o frio, que tanto se fizera sentir, desapareceu.
- Onde estamos? - perguntei.
- Se queres que te diga... Não faço ideia!
O seu sorriso fez-me sorrir também. E não era importante saber onde estava, importante era estar com ele.
- Recorda-me - pedi - Vinte e três locais em três semanas, é isso?
- É o objectivo, sim! Alguns desses locais vão ser vistos só de passagem, por algumas horas; em contrapartida, alguns outros levarão o seu tempo.
- Como esta aldeia.
- Sim!
- Está bem!
Estava sempre tudo bem na sua companhia... Mesmo estando longe de casa, mesmo estando num país de leste, mesmo estando numa pequena aldeia perdida algures num mapa que eu não conhecia... "Está bem!".
- Este café é dos melhores que já provei - afirmei.
- Era o saco mais barato.
Saimos à rua.
Enquanto ele fechava a porta, reparei nos dois vasos verdes que enfeitam a varanda que quase conseguia tocar com a cabeça.
"Tenho de regar aquelas plantas", pensei. Não por elas estarem a precisarem (que não estavam) , não por elas serem minhas (que não eram), mas sim por querer contribuir para a sua existência... Era suposto partir, deixá-las para trás, dentro de 24 horas .
As pessoas passavam por nós e murmuravam um cumprimento numa língua que eu não decifrei, limitei-me a sorrir.
A pequena praça, enfeitada com a fonte que vira da janela, levava-nos ao centro da aldeia... Tão diferente do que tinha visto até agora, uma ponte atravessava um rio calmo, os edifícios (embora fossem tão acolhedores como os que vira da janela) eram mais quentes, mais cheios de vida.
O frio voltou a instalar-se e trouxe consigo a vontade de caminhar, a vontade de descobrir aquele local sem nome que convidava a paz a entrar no coração.
Ele estava encantado, olhava à sua volta e eu sei que o seu pensamento estava indeciso sobre em que ponto começar a descoberta... Parecia uma criança a quem tinha sido oferecido o seu único brinquedo.
Era isto que eu tanto admirava... A idade não passava por ele; poderia envelhecer por fora mas por dentro seria sempre um menino ingénuo e sincero, com aquele brilhozinho nos olhos.
- Anda ver o rio - chamei.
Parei a meio da ponte, encostei-me ao resguardo que me impedia de cair na água e respirei, fundo, de alívio.
- Estás bem? - perguntou
- Não poderia estar melhor!
- Por vezes penso que te arrastei!
- E arrastaste! - brinquei.
- Sabes bem o que quero dizer! Por vezes tenho aquela sensação de te ter obrigado a vir...
- Erro! - interrompi - Vim porque quis! Achas que ia perder uma aventura destas? Eu sei que, por vezes, não sou a melhor companhia; tenho os meus momentos menos bons, tenho os meus segundos de silêncio, mas estou muito feliz por estar a fazer com isto contigo! Acredita!
Deu-se um silêncio... Um silêncio nada constrangedor, nada incómodo.
- Queres casar comigo?
- O quê?
- É isso - acrescentou com um sorriso - Queres casar comigo?
Tal e qual como eu tinha feito quando ele entrou em casa, encolhi os ombros... Mas não resisti a responder:
- Quero! Claro que quero!
- Anda!
E eu fui...
Deixamos a ponte com o passo apressado. Ele procurava algo que lhe parecesse familiar e, por fim, disse:
- Vês aquela porta?
- Sim!
- É lá!
- É lá?
- Falaram-me nisto! Celabram-se casamentos e...
- Estás a falar sério?
Paramos de caminhar.
- Estou!
- Está bem.
E tudo estava bem...
Uma espécie de altar decorava a sala. Alguns ramos de flores estavam espalhados por aqui e por ali... Os bancos estavam vazios.
- É válido? - perguntei.
- Aqui, sim! Para nós, sim!
- Muito ao estilo de Las Vegas.
Um senhor apareceu vindo não sei bem de onde e, em inglês, conseguimos explicar o que pretendiamos.
Algum dinheiro, mostrar identificação...
Sem testemunhas, sem ramo, sem alianças... Ali estavamos, lado a lado, a um passo do casamento.
Eu, de calças pretas, chinelos de enfiar o dedo, t-shirt e casaco preto.
Ele, de ténis "nike", calças de ganga e sweet vermelha com uma imagem do seu grupo preferido (Iron Maiden).
O tal senhor, que certamente terá um nome próprio na sua religião, ditava o que havia a ser ditado num inglês arranhado mas eu só conseguia olhar para ele, que estava ao meu lado, com aquele sorriso puro de criança.
Depois dos "I do" veio o "you may kiss the bride".
O sol entrou devagarinho por entre as cortinas que, suavemente, levitavam ao sabor do vento. As paredes, tão brancas, fizeram-me pensar que estava numa outra dimensão... Nada do me rodeava eu conhecia e dei comigo a pensar no sonho que tive...
Olhei para a pequena varanda enfeitada com dois vasos verdes e um pensamento tomou conta de mim:
- Tenho mesmo de regar aquelas plantas!
O meu muito obrigada às pessoas que me inspiraram de uma maneira quase impossível de explicar...
Desde o "casamento à Las Vegas" ao "respirar de alívio"; obrigada, querida amiga.
Ao "olhar inocente de criança" e aos "sonhos nunca mortos"; obrigada, meu anjo.
Ei, Jianna, longo, mas consegui ler tudinho.....está lindo!!! Quem não gosta de um sonho assim e foi a cores...com tantos pormenores..... Estás aprovada como escritora! Força....quero mais!!! fez-me lembrar do meu, assim, sem mariquices, sem flores, só com as alianças e vestida de cabedal (hehehe)...a sério!! beijinhos.
Deixa-me explicar, depois vês que não teve muita graça, mas que iniciei aqui na vilita, uma nova fase, ai isso foi.... ( de casamento só civil) Só quis casar pelo civil.Marcaram-nos um dia para ir lá....nesse dia, era Outubro, eu estava vestida normalmente de saia e casaca de cabedal e fui assim...chamei uma amiga que trabalhava numa repartição ao lado do cívil, para assinar como testemunha e quando as outras lhe perguntaram como ia vestida a noiva, ela disse " de cabedal" e daí ficou a história de me lembrar do cabedal e tudo.... Vês, é sem graça nenhuma....Já passaram 18 anos e ainda lembro que ficou num conto e tal (5 Euros), o meu casamento.....
foi engraçado ;) eu acho uma tristeza ter de se marcar o dia no registo civil, deviamos de ir lá e casar no momento... era muito mais giro :) o casamento (com vestido, grande festa, etc) não passa de um desfile... não tenho nada contra mas também não me vejo numa coisa dessas. bem, se foi em outubro, está quase a fazer mais um aninho ;) beijinhos.
Um registo bem diferente do normal, mas excelente!! Gostei muito, um teste à tua capacidade criativa/descritiva e passaste com distinção! Temos escritora, nada que eu já não soubesse... Bjnhos
P.S. Adoro a música!!!!! (já devias calcular, eheh)
Olha sabes... estou assim, a modos que... Está... 5 estrelas! Adorei mesmo! Consegui ver tudo o que descrevias, viajei até à pequena aldeia, vi-me sobre a ponte e também respirei de alívio... ;) Está lindo! E se algum dia te disserem que não sabes escrever, ri-te, porque, minha querida, tu escreves, e muito bem! Parabéns!
e seria mesmo giro... eu confesso que tenho claro assim uma ideia românica do meu dia de casamento, mas também sei que no dia que casar, vai ser muito complicado...
eu também tenho uma ideia romântica e esta minha ideia romântica pode ser diferente da tua ;) a minha ideia é mesmo esta: um pedido vindo do nada e, se possível, casar logo nesse dia ;)
lol, eu já ameacei o meu namorado de que se não me pedir de forma muito romântica em casamento, não aceito... ele para aí no início do namorado virou-se para mim uma vez do nada e perguntou-me se queria casar com ele, na altura disse sim, e ele disse ainda bem bem, porque eu por mim casava já amnhã contigo, mas claro, as coisas não são assim tão simples, lol... a minha é o pedido romântico e original e depois um casamento simples, com o meu vestido branco, mas depois vem os problemas, é quem me leva ao altar, o meu pai ou irmão, os meus convidados que não sei como vou fazer, pois tenho medo que de confusão...
ui! já andas a pensar em convidados e em quem te vai levar ao altar?! ;) o teu namorado foi um querido ;) claro que as coisas não são assim mas quando já somos mais "crescidos" e independentes, bem que as coisas podem ser assim ;)
eu estou a pensar em quem me vai levar ao altar, por causa da situaçõa do meu pai, mas decidi que vai ser o meu irmão, e nos convidados, porque a minha família dasse mesmo mal uns com os outros... se foi, ele quando quer consegue ser mesmo querido, pois eu de certeza a estudar e ele a trabalhar não tinha nada de independência na altura.
se vai, lol, olha para tu veres, da parte da minha mãe, o meu tio e mãe não se falam à anos, eu não vejo os meus primos à anos (e não moram assim tão longe), os meus avós? são divorciados e não se suportam um ou outro, sempre a criticar-se um ao outro, ah e a minha avó tem um namorado. depois do outro lado a família do meu pai parece rafeiros, sempre tudo a discutir a criticar e a insulatar-se uns aos outros, e a minh mãe odeia a minha avó (mãe do meu pai) pois ela queria que a minha mãe abortasse o meu irmão e pior passou too o casamento dos meus pais a defende-lo o que fzia o meu pai piorar, só depois do divóricio é que deu valor à minha mãe. vai ser mesmo lindo, lol...
jesus! que família!!!! a tua avó tem um namorado? que giro! sabes o que é que eu acho, que deve fazer uma cerimónia pequenina só com quem deve estar presente.
a minha família não é normal, lol... já pensei também nisso, mas o Pedro vai querer convidar da parte dele imensas pessoas. sim tem um namorado á 8 anos, que é mais novo que a minha mãe, tem uma difrença de mais de 30 anos (e não a minha avê não é rica, lol).
qual que, isso ainda é o mais estúpido, nunca vi uma mulher tão para a frentez em certos aspectos e tão retogada noutros, parece às vezes uma criança mimada.
pois, também acho, lol, mas também eu não convívo muito com a minha família, os meus avós (da parte do meu pai) só vou visitar em jantares de família e depois da ultima cena que soube nunca mais lá fui, a minha avó da minha mãe vem ver-me dirarimanete quase e traz-me sempre um chocolate, mas entramos sempre em guerra, porque tento-lhe meter juizo na cabeça e o meu avô só quando precisa de ajuda, lol... de resto não vejo mais ninguém.
já eu não tenho avós nem avôs e tenho duas tias (e não sei quantos primos) em lisboa; só conheço uma dessas tias e um dos filhos dela (ela teve três mas entretanto um morreu), a outra tia não sei quem é, lol. às tantas tenho um primo famoso e nem sei.
a tua família está muito distante, eu até a minha família distante conheço, reuniões de família aparecem cá todos, e é tudo do porto, das teriolas, eu tenho os 4 avôs e até uma visavó. hoje o meu avô (que só aparece para pedir ajuda) apareceu cá em casa, para me apresentar a nova namorada dele.