Sábado, 27 de Dezembro de 2008

(imagem retirada da internet)

 

E A Esperança Voltou

 

Eu estava sentada no mesmo banco do mesmo jardim que visitava todos os dias mas aquele dia era especial, era diferente! Não estava calor, aliás, o frio quase que congelava os ossos e as poucas pessoas que por ali se passeavam usavam casaco por cima de casaco.

Ela estava sentada no banco atrás do meu... As nossas costas quase se tocavam. Era costume ela estar por ali aquela hora do dia, tal como eu, e embora não soubéssemos nada uma da outra, já éramos "velhas conhecidas".

A hora do almoço acabou e eu só conseguia pensar na tarde atarefada que me esperava mas foi então que ouvi as vozes que soavam no banco onde ela estava.

 

- Estava a ver que não vinhas! - disse ela.

- Desculpa! Sabes como são os dias nesta semana de Natal; o trânsito está caótico.

 

Por cima do ombro vi aquele rapaz que se sentara ao lado dela, eu não o conhecia; ela sempre se sentara sozinha, tal como eu.

 

- Não faz mal, Ricardo. Temos a tarde por nossa conta.

 

Ele chamava-se Ricardo.

 

- Queres ir para outro sítio? Está frio aqui... Muito frio!

- Não, Ricardo! Gosto disto aqui! É calmo, é tranquilo, está frio mas mesmo assim é bom estar aqui. Sabes o que isto me faz lembrar? Os nossos passeios naquele lago perto da casa dos teus pais, lembras-te?

- Oh Mónica, como poderia não me lembrar?

 

Ela chamava-se Mónica.

 

- Começas tu ou começo eu? - perguntou ele.

 

O silêncio que se instalou prometeu uma daquelas conversas que ninguém mais deve escutar... Mas eu estava ali, já estava ali antes de ele chegar e, sinceramente, eles não pareciam importarem-se com isso.

 

- Sabes, Ricardo, eu pensei bem... Vi e revi cada um dia destes últimos meses e cheguei à conclusão de que é normal!

- Normal?

- Sim! A Carla anda sempre a falar na crise dos sete anos... Eu acho que nós tivemos a crise dos sete meses.

 

Ele agitou-se! Por cima do ombro vi que ela aproveitou para se chegar mais para ele.

 

- Não sei se te serve de muito vires com esse tipo de desculpas, agora. Foste tu que me puseste fora de casa, não foste, Mónica?

- Sim, fui! E estou muito arrependida!

- Fazes ideia daquilo por que passei? A humilhação que foi e continua a ser? Estou inocente, percebes? Inocente!

 

A voz dele estava calma! Calma como aquele dia de Inverno!

 

- Eu sei, Ricardo! Desculpa! Sabes como eu sou; sempre actuo sem pensar nas consequências e aquilo que se passou foi demasiado mau...

- Não! Não foi demasiado mau! Tu é que tiraste as conclusões que quiseste tirar e nem sequer me deste a oportunidade de explicar! Mas sabes que mais? Acho que não mereces qualquer explicação!

- E que tal veres pelos meus olhos? Põe-te no meu lugar! Só desta vez, põe-te no meu lugar! Peguei no teu telemóvel e vi uma mensagem daquelas... O que querias que eu pensasse?

- Pensasses o que quisesses mas poderias ter-me dado o benefício na dúvida, não? Não quiseste ouvir-me... Nem sequer quiseste saber se aquilo era mesmo verdade! Leste uma mensagem que fora enviada para mim  por engano...

- Eu sei disso! Sei disso, agora!

- Sim, agora sabes disso mas não quiseste saber na altura! Começaste logo com as tuas coisas, os teus palpites, as tuas desconfianças!

- Eu sou assim!

- E que culpa tenho eu? Ah?! Diz-me! Que culpa tenho eu?

- Desculpa!

- Só isso não chega! 

- Foi muita coisa junta! A Carla diz...

- A Carla isto... A Carla aquilo... Quando é que deixas de ouvir a Carla? Lá por o marido dela ser o sacana que é, não quer dizer que os outros também o sejam!

- Desculpa, Cadinho!

 

"Cadinho"? Deve ser o diminutivo de Ricardo!

Eu tinha tantos planos para aquela tarde! O Natal estava à porta e tudo aquilo que o envolve estava por fazer... Queria ir embora, juro! Mas fiquei presa ao banco, fiquei presa aqueles dois seres que estavam mesmo atrás de mim...

O silêncio prolongou-se.

Uma rajada de vento fez algumas folhas levitarem e, por momentos, pareceu-me que o vento cantava uma daquelas canções que nunca ninguém antes ouviu.

As pessoas agarravam os gorros, os chapéus, o que quer que fosse que servia para aquecer a cabeça, e apertavam mais os seus casacos.

O vento soprava, soprava e as nuvens dançavam no céu azul que se estendiam por cima das árvores... O dia irradiava a luz de mil sóis.

 

- Não sei como fazes isto! - exclamou Ricardo.

- O quê?

- Depois de tudo o que me fizeste e de tudo aquilo que eu sei que me irás fazer; continuo a amar-te como amava naquela noite em que me ajoelhei à tua frente e te pedi em casamento!

 

Os suspiros dela diziam-me que as lágrimas estavam a ser contidas... Mas não por muito mais tempo.

 

- Vou mudar, Ricardo! Prometo!

- Mudar? Mas eu gosto tanto de ti assim, como és!

 

Ela deixou que as lágrimas caíssem e, sempre por cima do ombro e como quem não quer a coisa, vi os braços dela a apertarem o pescoço dele com uma força delicada.

 

- Nasce aqui um novo capítulo? - Ricardo perguntou.

- Nasce uma nova história!

 

Ele acolheu-a nos seus braços.

 

- Mónica! Mónica! Dás cabo de mim!

- Preciso de ti inteiro... Até porque vais ser pai!

 

Levantei-me com um grande sorriso nos lábios e deixei-os com a paz daquela novidade que ela revelara.

Caminhei rumo à minha vida mas não mais pensei nas tarefas que tão bem tinha planeado... Em vez disso peguei no telemóvel e liguei para aquele número que sempre ocupava a lista de chamadas.

- Estou! - ele atendeu.

- Amor, sou eu! Tenho tantas saudades tuas...

 

nota: texto de ficção criado por mim para a "Fábrica de Histórias".

 



publicado por mafalda às 15:19 | link do post | comentar

4 comentários:
De Cloudy a 27 de Dezembro de 2008 às 15:39
É sempre bom poder recomeçar, escrever uma nova história, dar um outro sentido às coisas. Bonita história Jianna. Muitos beijinhos


De mafalda a 29 de Dezembro de 2008 às 14:24
obrigada, amiga!
beijinhos.


De Sorriso ツ a 29 de Dezembro de 2008 às 10:35
Linda história Mafaldinha... Linda! Gostei muito!

Beijocas :)


De mafalda a 29 de Dezembro de 2008 às 14:24
:)
biiiigaaadaaa!
beijocas.


Comentar post

mais sobre mim
Julho 2017
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9
10
11
12
13
14
15

16
17
18
19
20
21
22

23
24
25
26
27
28
29

30
31


posts recentes

ao rapaz com olhos cor de...

saudades

revolta.............

o amor

isto da angelina jolie...

repete lá isso, faxa vor!...

vamos ao circo...

não há quem (n)os entenda

hoje é assim....

e já passou um ano...

arquivos

Julho 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2015

Junho 2013

Maio 2013

Dezembro 2011

Novembro 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

Fevereiro 2008

tags

"se"

2009

21 gramas

3 doors down

30 rock

30 seconds to mars

a arte de comer oreo's

a família addams

a importância de ter um blog

a walk to remember

adam gontier

adam lambert

adele

aerosmith

akon

alesha dixon

alison moyet

amanhecer

apocalyptica

ascenção e queda

audioslave

avril lavigne

bandas sonoras

barack obama

bella morte

bella swan

beyoncé

birthday

bjork

bombons chineses

chris brown

coisa de miúdos

coldplay

crepúsculo

dancing the dream

de cor e salteado

de mim para vocês

desafios

dido

doce novembro

eclipse

edward cullen

entre a morte e a vida

evanescence

fábrica de histórias

filipa

fingertips

futebol

guano apes

guns n' roses

haja paciência

him

inxs

james morrison

jared leto

joana

katie melua

lamb

lidia

linkin park

livro do desassossego

lua nova

lua nova trailler

maria fátima soares

meu blog na revista brasileira de música

mian mian

michael jackson

muse

música para os meus ouvidos

natal

natalie imbruglia

ne-yo

nelly furtado

nós

o estranho caso de benjamin button

o principezinho

o que aqui revelo é para ficar entre nós

pablo neruda

paulo coelho

pearl jam

pedro khima

pérolas

pink

placebo

que surpresa tão linda

quem quer ser bilionário

rilke

rita redshoes

saint-exupéry

seal

simple plan

stephenie meyer

system of a down

teorias da conspiração

the rasmus

tokio hotel

último post

vikas swarup

whitney houston

within temptation

todas as tags

favoritos

Quero-te

Insónia

É À NOITE

Esfera

Palavras

ESSES TEUS CINCO SENTIDOS...

É

Porque não pára o tempo?

Confiança

Alma

links
blogs SAPO
subscrever feeds