Terça-feira, 13 de Janeiro de 2009

http://palavrasaovento.blogs.sapo.pt/arquivo/carta-de-amor.jpg

(imagem retirada da internet)

 

O Envelope Amarelo

 

Elsa chegou a casa num corrupio... Enquanto estacionava o carro, só conseguia pensar no trabalho que a esperava.

- Hoje é sexta-feira - disse para si - Vou mas é descansar um pouco, dar um jeito a este cabelo, pintar as unhas com outro verniz e mais logo tratarei da papelada.

A "papelada" nada mais era do que um monte de informações, fotocópias e processos... Elsa era advogada e estava agora encarregue daquele que parecia ser o caso da sua carreira, por isso, tinha de concentrar a sua força e atenção... E isso não aconteceria se não estivesse relaxada!

A ideia de um longo banho quente não lhe saia da cabeça e nem reparou na quantidade de papel que ocupava a sua caixa de correio mas, ao subir mais um degrau das suas escadas, houve algo que lhe chamou a atenção.

O vento que corria em todas as direcções fazia com que um folheto publicitário batesse na caixa de correio e Ela voltou para trás.

- Tanta coisa!

Mal entrou em casa, coreu para a banheira e meteu a água a correr. Só depois se deu ao trabalho de olhar para a correspondência... Era o mesmo do costume:

Um folheto de um hipermercado; outro folheto de outro hipermercado.

Um folheto de uma loja de electrodomésticos; outro folheto de uma loja de artigos para o lar.

A conta da água, a conta do gás, a conta da electricidade.

- Mas estes gajos lembram-se de enviar as contas todas ao mesmo tempo? - barafustou.

Entre folhetos de promoções e a conta do telefone, estava um envelope diferente...

De um amarelo torrado e mais pequeno do que os outros, aquele envelope trazia consigo o mistério do remetente.... Apenas o nome de Elsa e a sua morada ilustravam o papel.

Sem pensar na água quente que caía na banheira, sem pensar no vento gelado que assobiava fora daquelas paredes, Elsa abriu a carta com cuidado... Mil e um pensamentos gritavam na sua consciência e não resistiu a sentar-se no chão quando começou a ler.

 

 

"Querida Elsa,

Dei muitas voltas até decidir o que aqui escrever; primeiro pensei em começar com os cumprimentos habituais e o cliché do "como estás?", mas neste momento o que me importa é saber que tens este papel na mão e que o meu coração está nele.

Desculpa! Isto é sincero! Desculpa aquilo que te fiz passar!

Desculpa o meu virar de costas tão repentino!

Desculpa o silêncio destes anos todos que passaram!

Agora sei que deveria ter lutado mais por nós! Tu sempre deste o que tinhas e o que não tinhas e eu, tão mal habituado, não soube dar-te o valor que tanto merecias!

Já deves ter ultrapassado (desculpa-me também por levar-te ao passado) mas eu precisava de dizer-te tudo o que ficou por dizer! E queria, acredita que queria, dizê-lo cara-a-cara... Talvez, um dia, isso seja possível.

Nunca consegui esquecer-te da maneira que desejava... Quis deixar-te nas memórias mais escondidas, quis deixar-te no canto mais longínquo do meu coração, quis que fosses apenas mais uma pessoa na minha vida, mas o sentimento que tive por ti continua comigo e posso afirmar com toda a convicção que te amo tanto hoje como amei nos tempos inesquecíveis que passámos juntos.

Fui um parvo! Fui um menino mimado que fugiu assim que apareceu o primeiro problema! Eu sei que me perdoaste, embora não tenhas esquecido! Eu sei que sempre tiveste o dom de dar uma segunda oportunidade! Eu sei que não guardas rancor!

Deves estar a perguntar o porquê desta carta.

Finalmente percebi as dimensões do meu erro e, por muito que eu queira abraçar-te, beijar-te, tocar-te, não posso simplesmente aparecer à tua porta como se nada tivesse acontecido e gritar: Estou aqui!

Já não sou assim tão egoísta! Já não sou tão egocêntrico!

Não sou ninguém para aparecer do nada e esperar que me recebas de braços abertos... Por isso decidi escrever-te (mesmo sem saber se esta continua a ser a tua morada).

De tudo o que tenho para te dizer, resumo em duas simples palavras:

 

DESCULPA!

Por tudo.

 

OBRIGADA!

Por tudo.

 

Tu foste (e és) um verdadeiro anjo e eu quero que nunca te esqueças dos sorrisos que me provocaste.

Um beijinho do tamanho do mundo,

Carlos."

 

Elsa limpou as lágrimas que lavavam as suas faces e releu cada uma daquelas palavras.

- Porquê, Carlos? Porquê, agora?

A carta tinha a data de há quinze dias e Elsa ainda estava indecisa se deveria ou não entrar em contacto com Carlos.

Após alguns momentos a ponderar, resolveu procurar o número de telefone da casa da mãe dele para apenas ter a oportunidade de dizer-lhe que recebera a carta e que não valia a pena pensar mais no passado; ele poderia continuar com a sua vida sem sentimentos de culpa, há muito tempo que estava perdoado!

Os números foram marcados com cuidado para evitar enganos e a espera até alguém atender pareceu demorar horas.

- Estou, sim? - alguém disse.

- Dona Maria, é a senhora?

- Sim! Quem fala?

- É a Elsa!

- A Elsa?

- Aquela que namorou com o seu filho!

- Ah menina! Como estás? É tão bom ouvir-te!

- Estou bem, obrigada! O Carlos está por ai? Precisava mesmo de falar com ele!

- O Carlos não está, minha filha. Tu ainda não sabes?

- Não! Não sei de nada!

- Oh minha querida, o Carlos morreu na semana passada!

- Morreu?! - perguntou Elsa com a voz sumida.

- Ele tinha cancro e não sobreviveu.

Elsa despediu-se com a mesma voz sumida e dirigiu-se à casa de banho onde a água continuava a correr; com os olhos a arderem por causa das lágrimas que caíam sem tréguas, ela sentou-se no chão e apertou com força as últimas palavras que ele escreva.

- Eu perdoei-te! - sussurrou.

 

nota: texto de ficção criado por mim para a "Fábrica de Histórias"

 



publicado por mafalda às 20:46 | link do post

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