(imagem retirada da internet)
Ele acabara de assistir ao jogo de futebol pela televisão e ainda estava sentado no sofá a dirigir o resultado final que não favorecia em nada a sua equipa! Subitamente deu-se conta do silêncio que o envolvia e questionou-se se ela já estaria a dormir. Percorreu o corredor com passos leves e abriu a porta do quarto, devagar.
Lá dentro, em cima da cama decorada com um lençol azul como o céu, ela adormecera agarrada a uma fotografia; ainda da porta, ele ficou a admirá-la... A camisa de noite branca que cobria metade das pernas, os joelhos ligeiramente dobrados, os pés, desprotegidos do frio, muito juntos, o cabelo que enfeitava as costas e caía sobre o rosto, as mãos sobre o peito...
Só quando chegou junto dela é que reparou na fotografia!
Não era novidade! Raros eram os dias em que ela não pegasse naquela fotografia onde ela e a prima sorriam para a câmara numa alegria genuína!
Com muito cuidado, agarrou numa ponta e tentou puxá-la mas ela abriu os olhos... Abriu os olhos e sorriu.
- Volta a dormir! - ele aconselhou. - Estava a tentar tirar a foto antes que se estrague.
- Toma! - disse ela enquanto estendeu a mão que segurava o retrato.
Ele pegou no precioso papel e voltou a olhar para o sorriso sincero da prima dela... Um arrepio percorreu-lhe a espinha! Era um arrepio que ele bem conhecia; era o mesmo arrepio que sentia sempre que olhava aquela imagem!
A expressão cerrada que ela agora tinha contrastava com os sorrisos retratados.
- Era como uma irmã para mim - ela disse. - A minha prima.
- Eu sei! Não penses nisso! Não te faz bem! - tentou ele acalmá-la enquanto se sentava na cama.
- É impossível não pensar nisso!
- Já passou tanto tempo!
- Cinco anos!
"Parece que foi ontem", ele pensou.
- É curioso! - ela exclamou.
- O quê?
- Um dos dias mais triste da minha vida foi, simultaneamente, um dos melhores dias! Se calhar é errado dizer isto mas... Foi assim que nós nos conhecemos... No funeral dela!
Ele limitou-se a acenar com a cabeça.
- Ela nunca me falou de ti! - ela continuou. - Era costume contar-me tudo mas nunca te mencionou.
- É natural! Não éramos propriamente amigos nem tão pouco éramos "conhecidos"! Tínhamos amigos em comum, apenas. Talvez tenhamos falado uma ou duas vezes, mais nada!
- E mesmo assim foste ao funeral dela! Muitos colegas da faculdade nem se deram ao trabalho de fazer um telefonema... Mas tu foste ao funeral.
- Ainda bem que o fiz! Afinal, foi lá que nos conhecemos!
Ela sorriu e ele, embora também tivesse sorrido, só lhe apetecia chorar.
Puxando os cobertores, ele disse:
- Agora dorme. Amanhã tens de acordar cedo!
Ela seguiu o conselho dele mas ele ficou a olhar para o tecto...
"Cinco anos!", pensou.
Quando fechou os olhos fez uma viagem ao passado e reviveu cada minuto daquela noite que acontecera há cinco anos.
Estava escuro e a estrada era mal iluminada mas ele sentia-se vivo! Estava completamente sozinho, tanto dentro do carro como fora dele, pois não avistava qualquer outro veículo. Cantava alegre as músicas que o cd tocava mas o cd chegara ao fim e ele não queria ouvir o mesmo, por isso esticou a mão até alcançar a mochila que ocupava o banco do passageiro e retirou uma caixa de um dos bolsos. A caixa, que tinha lá dentro um dos seus cd's preferidos, estava ligeiramente aberta, o que fez com que o cd salta-se e só parasse em cima do tapete. Ele pensou em baixar-se para apanhá-lo mas primeiro olhou para o sítio onde tinha de pousar a mão... Um movimento rápido...E fatal.
O som pesado de uma buzina fê-lo olhar de novo para a estrada e uns faróis luminosos vinham na sua direcção! Ele rodou o volante numa tentativa de voltar à sua faixa mas já era tarde.
O carro que vinha em sentido contrário saíra da estrada e passara por ele a uma velocidade incontrolável só parando na primeira árvore que apareceu.
O choque foi brutal! Passados cinco anos, ele ainda conseguia ouvir o estrondo!
Ele correu!
Correu para ajudar!
Correu para salvar!
Tudo o que encontrou foi uma rapariga na flor da idade que sangrava abundantemente pela boca... O airbag fora incapaz de atenuar os estragos causados; o seu tórax estava esmagado e ela tivera morte imediata.
Ele ligou para o número de emergência e pediu ajuda.
Junto da rapariga morte ele aguardou pela chegada das autoridades a quem disse que ia a passar naquela estrada quando viu o automóvel já acidentado.
Houve uma investigação e a conclusão fora a que ele esperava: não haviam indícios da presença de outro veículo, ou outras pessoas, portanto, o acidente fora causado por distração ou por perda de controlo do veículo.
Ele estava ilibado!
Decidira ir ao funeral em cima da hora! O peso que transportava na consciência não deixava que os seus pensamentos fossem claros mas decidiu prestar-lhe uma última homenagem! Ele teria de ver o sofrimento dos familiares e amigos, ele teria de ver os rostos fechados, as lágrimas... E pensar: "fui eu!"!
No final da cerimónia, as pessoas saíam do cemitério umas atrás das outras mas uma rapariga teimava em manter-se junto da campa. Ele queria pedir desculpas à inocente que tinha morrido mas não podia fazê-lo enquanto ela ali estivesse.
Aos poucos o cemitério ficou vazio. Restava ele e ela...
Ela continuava a olhar para a campa com as lágrimas a cair-lhe pelo rosto sem qualquer esforço e ele já desistira de ficar ali.
Foi então que ela perguntou:
- É colega da faculdade?
Ele, mentindo, acenou afirmativamente.
O braço dela pousou no corpo dele e fez com que as memórias do passado desaparecessem.
- Tenho um segredo! - ele confessou.
- Também eu! - respondeu ela, mais a dormir do que acordada. - Amo-te! Mas isso não é segredo!
E, sorrindo, adormeceu.
nota: texto de ficção criado por mim para a "Fábrica de Histórias"
Hello - Evanescence
Playground school bell rings again
Rain clouds come to play again
Has no one told you she's not breathing?
Hello I'm your mind giving you someone to talk to
Hello
If I smile and don't believe
Soon I know I'll wake from this dream
Don't try to fix me I'm not broken
Hello I'm the lie living for you so you can hide
Don't cry
Suddenly I know I'm not sleeping
Hello I'm still here
All that's left of yesterday
meu blog na revista brasileira de música
o estranho caso de benjamin button
o que aqui revelo é para ficar entre nós