(Monsanto, imagem retirada da internet)
- Que dia lindo!!!
- Quinhentas e setenta e sete vezes!!!
- O quê?
- As vezes que já disseste isso, Tomás!
- Mas está mesmo lindo! Está-se tão bem nesta esplanada, sem nada para fazer, a ver as pessoas que descem a calçada...
- E sobem! A calçada também dá para subir!
- Oh Carolina, que bicho te mordeu hoje?
- O mesmo que te mordeu quando te passou pela cabeça vestires essa camisa vermelha!
- Isto não é vermelho!
- Pois não! É encarnado!
- Que mau humor!
- Pronto, desculpa! O dia está bonito, concordo, está-se bem na esplanada, também concordo, a tua camisa é vermelha, pois é!
- E tu pareces o touro pronto a atacar!
- Só mesmo tu para me fazer rir! Olha lá, tu não tinhas de ir não sei onde fazer não sei o quê?
- Tinha... Mas é só mais logo. Relaxa! São três horas da tarde, está calor, estamos à sombra a saborear um gelado de chocolate... Não há melhor.
- Sabes, Tomás, estamos à sombra mas eu estou a arder! Arre! Está mesmo calor! Quem diria que nesta aldeia do interior faria tanto calor no primeiro mês do ano?
- É verdade! Mas também estás vestida com essas cores escuras... Já sabes que ficas com mais calor.
- Pois sim! Como se o vermelho não fosse uma cor escura!
- Isto não é vermelho!
- Olha! O Manel vem ai! Ele parte-me toda com aqueles chinelos... Qualquer dia apanha um tombo que nunca mais se endireita!
- Ele já está habituado!
- Será que vem para aqui?
- Não sei! Podemos chama-lo!
- Olha, olha! Afinal vai para casa da Carlota!
- Pode ir para casa do Nuno, não sabes!
- Claro que sei! Ora repara: a casa que está mesmo aqui à frente é a do António, a segunda do lado direito é a dos pais do Miguel, a terceira é a da Carminda do supermercado, a quarta é a do Nuno e a quinta, onde o Manel entrou, é a da Carlota!
- Olha que é mesmo! Tens isto tudo orientado!
- Claro, Tomás! Aqui as casas parecem todas iguais! Parecem clones de clones!
- Carolina tens um lagarto na saia, os Carolina tens um lagarto na saia!
- Estás parvo? Pára lá com essa canção! Nem sequer é assim...
- Tu não sabes como é!
- Nem quero saber! Pára com isso, repara naqueles senhores da mesa do canto a olharem para nós! Eles não estão habituados a receber malta nova por cá.
- Dizes tu...
- Foi a Carlota quem disse! Quando eu lhe pedi ajuda para o projecto ela nem hesitou; disse logo que a aldeia natal dela era a melhor para a nossa investigação e que seria bom virmos para cá porque isto é... Muito morto! Sim, muito morto foi o que ela disse!
- Bem, eu pensava que era uma aldeia envelhecida mas, afinal, os jovens vão resistindo!
- Ainda bem!
- Sim, Carolina, ainda bem! Isto aqui é muito bonito! Nem interessa que as casas sejam iguais ou que as ruas sejam de paralelos ou que apenas haja um café que é ao mesmo tempo supermercado.
- Imaginas-te a viver aqui... Para sempre?
- Não sei! Estou habituado a outras coisas... Aos cinemas, às livrarias, às auto-estradas, à confusão citadina... Enfim, não me vejo aqui para sempre mas é, sem dúvida, um bom lugar para passar umas férias!
- Ouve lá, onde é que vais logo?
- Isso interessa?
- Interessa! Também quero ir!
- Mas não vais! Só se disseres que a minha camisa vermelha é bonita!
- É bonita, sim senhora! A camisa vermelha é bonita e fica muito bem com essas calças azuis!
- Bem que te podias esforçar para que isso parecesse sincero!
- Pronto, está bem! A camisa é bonita e fica-te muito bem, sobresai a cor dos teus olhos! Está melhor assim?
- Um bocadinho mas, se quiseres ir, terás de pedir com jeitinho.
- Oh Tomás, leva-me contigo, logo, onde quer que fores... Com jeitinho.
- Palerma! Está bem! Eu digo-te onde vou mas já sei que não queres ir...
- Sabes nada!
- Sei sim!
- Então diz onde vais!
- Vou ver se está a chover!
- Eu vou-me zangar contigo!
- Ooohhhh! Faz beicinho, faz!
- Sabes que mais? Podes ficar com o teu mistério, já não quero saber! Logo à noitinha, eu vou vestir aquele vestido que tu bem conheces e vou...
- Vais para onde? Subir e descer a calçada? Aqui o café fecha às dez e não há mais sítio nenhum para onde possas ir... A não ser para casa da Carlota!
- Não importa! Visto o vestido e fico em casa... Tanto faz!
- Vá! Dá cá um beijinho, sim? Eu digo-te onde vou, está bem? Vou ao reservatório da água buscar as análises!
- A um sábado à tarde?!
- Sim! Ficam prontas hoje! Olha, lá vem o Manel e a Carlota! Ali há caso!
- Eu vou averiguar isso... Deixa-os chegar! Peço à Carlota para ir comigo lá dentro ao balcão e faço com que ela conte tudo!
- Tomás, Carolina! Tudo bem?
- Está tudo, Manel! Oh Carlota, vem comigo lá dentro buscar uns refrigerantes para os rapazes!
- É para já!
- Manel, tens tudo pronto para logo?
- Tenho, Tomás! Mas temos de ser cuidadosos.
- Não te preocupes, a história das análises pegou.
- A Carolina não desconfiou que isso é mentira?
- Não! Ela sabe que mandamos analisar a água e não tem interesse algum em ir comigo ao reservatório, portanto... estou safo!
- Estás safo... É como quem diz! Quando ela souber que lhe mentiste....!!!
- É por uma boa causa!
- Lá isso é! Preparar um pedido de casamento é sempre uma boa causa!
- Ainda mais quando é surpresa!
- Desconversa, Tomás! Elas vêm ai!
Nota: texto de ficção criado por mim para a "Fábrica de Histórias"
(imagem retirada da internet)
Quando Joana chegou ao centro comercial faltavam vinte minutos para a hora de abertura da loja e não pensou duas vezes quando viu as suas companheiras de profissão sentadas numa mesa do pequeno café que ficava em frente ao seu local de trabalho.
- Que caras sérias são essas? - perguntou enquanto puxava uma cadeira que pertencia a outra mesa.
- Fala-se que vão fechar o centro comercial! - informou a Carla.
- Deves estar a brincar! Com todas estas pessoas que passam por aqui? Naaa!
- As pessoas passam por aqui, disseste bem! As pessoas vêm passear, ver as montras... Mas não compram! - disse a Susana.
- Não acredito! - convenceu-se Joana. - Eu sei que os negócios estão fracos mas não é caso para fecharem o centro comercial assim, da noite para o dia. Melhores dias virão!
- Continua acreditar nisso, minha amiga, e terás uma grande desilusão!
Enquanto proferira estas palavras, Carla tinha a cara mais séria que Joana alguma vez viu... E logo a Carla, que era a alegria do grupo!
Joana não quis pensar mais no assunto! Tinha uma loja para abrir e, em princípio, muitos clientes para atender.
Aquele era o seu trabalho há mais de quatro anos... Embora não fosse aquilo que tinha em mente quando se mudou para a grande cidade, a verdade é que não tinha muito por que se queixar; tinha o seu dinheiro, e isso incluía a dependência que sempre ansiara, tinha feito grandes amizades com Carla e Susana, que trabalhavam nas duas lojas que se seguiam, tinha a oportunidade de conhecer gente simpática, embora lá de longe a longe apanhasse alguém verdadeiramente arrogante, e tinha aprendido o "ofício"... Não se via noutro lugar ou a fazer outra coisa.
Funcionária exemplar que era, Joana estava encarregue de abrir e fechar a loja, fazer as contas, depositar o dinheiro e todas as responsabilidades eram suas, mas sentia-se feliz com ela própria e gostava que D. Madalena depositasse em si toda a sua confiança.
Um dia, um longo dia de Janeiro, D. Madalena entrou na loja.
- Não a espera hoje por aqui! - exclamou Joana.
- Pois é, Joaninha! Temos de conversar...
- Não me diga que as contas não batem certo!
- Não é nada disso, minha querida! Nem sei por onde começar! Bem decerto já ouviste falar sobre o fecho do centro?
Joana não sabia se aquilo era uma pergunta ou uma afirmação, por isso optou por não dizer nada.
- Parece que é o que vai acontecer! - continuo D. Madalena. - E. mesmo que isso não aconteça, vou ter de fechar a loja.
Joana foi apanhada de surpresa e, se antes não sabia o que dizer, agora não só não sabia o que dizer como também não sabia o que pensar.
- Desculpa, Joaninha! Passaste os últimos quatro anos aqui e eu gostaria que assim fosse por muito, muito mais tempo... Mas não dá! As vendas de Natal ficaram muito aquém do esperado, tu bem sabes, e esta época de saldos está a ir pelo mesmo caminho... Mal ganho para pagar a renda e confesso que já tive de tirar do meu bolso para te pagar o ordenado. Tu não tens culpa! És uma excelente funcionária, não há quem diga o contrário...
- Eu compreendo, D. Madalena! Não se preocupe comigo!
Joana ficou a saber que o previsto seria o fecho do centro comercial no final do mês mas, tal como disse D. Madalena, a loja fecharia de qualquer maneira.
No dia 31 de Janeiro, todas as 25 lojas abriram as portas pela última vez.
Passava já da meia-noite quando Joana chegou ao seu pequenino apartamento; já deitada na sua cama, pensava no futuro! Agora teria de procurar um novo emprego e seria isso que planeara para o dia seguinte.
Depois de ter percorrido ruas e mais ruas, que a uma determinada altura lhe pareciam infinitas, e de ter entrado em todas as lojas que encontrava, Joana voltou a casa... Cansada mas não derrotada.
Até um dia...
O dinheiro esgotava-se cada vez mais! A linha de telefone foi cortada, a internet foi cortada, os canais por cabo foram cortados... E o dinheiro continuava a esgotar-se!
Joana tomou a decisão mais difícil: voltar para casa dos seus pais.
Quando saiu do autocarro, teve a ligeira sensação de nunca ter saído daquele lugar. As ruas estavam iguais, as casas estavam iguais, até as pessoas estavam iguais... Mas teve a sorte de estar no local certo há hora certa: no segundo dia de "estadia" em casa dos pais, Joana decidiu ir ao pequeno supermercado comprar a manteiga que tanta falta lhe fazia e foi a caminho de casa que ouviu a Senhora Berta a chamar por ela.
- Joaninha, és mesmo tu! Voltaste, minha querida, e em boa hora o fizeste! Por acaso não queres ajudar esta pobre velha no quiosque?
O "quiosque" era na verdade uma livraria... Uma pequena, e única, livraria que ficava no centro da aldeia.
- Claro que sim, D. Berta! - respondeu Joana com entusiasmo.
Joana sempre gostara da velha livraria; foi lá que aprendeu a sonhar e a apreciar o mundo, foi lá que conheceu lindas histórias que estavam guardadas como que secretamente dentro dos livros.
O dinheiro não era muito mas, pelo menos, dava para Joana comprar as suas coisas sem correr aos seus pais e, com um pouco de esforço, conseguia guardar uma ou outra nota para, mais tarde, depositar no banco.
Dois anos passaram.
D. Berta falecera entretanto e, sem surpresas, deixara a livraria a Joana.
O negócio não dava grande lucro mas, mais importante, também não dava prejuízo!
Joana estava mais feliz do que alguma vez estivera nos quatro anos que passara na cidade... Tinha a sua casinha, que partilhava com o namorado, Hugo, com quem planeara casar no final do ano; tinha visitas frequentes de Carla e Susana; tinha a sua família perto de si e tinha estabilidade.
Joaninha aprendeu que pode tropeçar... E não cair!
Nota: texto de ficção criado por mim para a "Fábrica de Histórias".
(imagem retirada da "Fábrica de Histórias")
É quase meio-dia e ainda estão todas estas pessoas à minha frente! Também ninguém me mandou vir às compras a uma hora destas... Mas eu pensava que não andava por aqui ninguém! Até parece o fim do mês... Daqueles meses em que o salário é a dobrar!
Arre! Será que não podem abrir outra caixa? Estão, pelo menos, dez pessoas à minha frente e todas elas têm o carrinho de compras cheio!
Ai! Como é que me fui esquecer? Nem sei se tenho dinheiro suficiente... Cabeça no ar! Se não tiver, estou tramada! Como raio fui perder o cartão de crédito? Deveria ter um suplente! Agora, se não tiver aqui dinheiro, só posso levantar com a caderneta e aquelas máquinas de multibanco que ali estão não dão para fazer levantamentos com a caderneta! Vou passar a vergonha das vergonhas! Até já estou a imaginar:
- Afinal só posso levar o pão, o arroz e o leite porque não tenho aqui dinheiro para mais!
Só a mim é que acontecem coisas destas!
Bem, deixa-me lá puxar pela carteira! Vou fazer contas mentalmente e vou já devolver às prateleiras aquilo que por agora não está a fazer falta.
Não sei para que é que ando com esta mala!!! É tão grande! Não encontro nada aqui dentro! Ah! Finalmente...
Ora bem, moedas de €1 e de €2... Devo ter uns €7 ou €8 aqui.
Notas, notas!
€20 mais €20...
Quase 50€.... Estou tranquila! Tenho dinheiro que chega e sobra!
Tantos papéis! O que é isto? Qualquer dia pego nesta papelada para meter no lixo e vai uma nota junta... Já não era a primeira vez!
Contas do supermercado, recibo da livraria, mais contas do supermercado... Isto é tudo para reciclar!
Aqui estão as fotografias dos meus meninos! São a parte mais valiosa desta carteira, a par dos documentos, pois claro! Que lindos! Aqui estão eles quando eram bebés... Estas aqui são as fotos que estão nos bilhetes de identidade! E aqui atrás está esta foto que eu já nem recordava...
Ninguém diria o que essas rugas escondem! Quem vê esta foto, não imagina como realmente eras!
Pareces tão tranquila... Pareces tão simpática, tão boazinha!
Quem olha para esta foto e vê o teu rosto não imagina o quanto me fizeste sofrer! Ninguém diz que tu serias capaz de provocar o maior dos reboliços no mais perfeito ambiente! De facto, as fotografias enganam muito... Talvez não sejam as fotografias em si, mas sim a posse que fazemos em frente à câmara fotográfica!
Foste má! Sempre foste má! Talvez não seja correcto eu estar aqui, neste momento, a apontar-te defeitos... Mas sempre me causaste problemas e eu nunca soube porquê! Implicaste demasiado por demasiadas vezes, causaste guerras e batalhas! Nunca pudeste ver as tuas próprias filhas a darem-se bem umas com as outras... Vinhas logo com as tuas intrigas, a inferiorizar, a meter em mal!
Nunca te perdoei! E tu sabes!
Agora já não interessa!!!
Talvez por teres sido assim para mim é que eu tento ser o contrário para os meus filhos! Talvez a tua missão tenha sido a de magoar para que eu pudesse dar o melhor do melhor aos meus meninos!
Nunca foste boa mãe! Não sei se não o foste porque não sabias ser melhor ou se simplesmente não querias sê-lo!
Agora já não importa!
Foi por teres sido assim que eu esforço-me por ser, e sei que o sou, o contrário!
Estás esquecida!
E eu vou parar de pensar nisso... Até porque já está a chegar a minha vez!
Nota: texto de ficção criado por mim para a "Fábrica de Histórias"
(imagem retirada da internet)
Ele acabara de assistir ao jogo de futebol pela televisão e ainda estava sentado no sofá a dirigir o resultado final que não favorecia em nada a sua equipa! Subitamente deu-se conta do silêncio que o envolvia e questionou-se se ela já estaria a dormir. Percorreu o corredor com passos leves e abriu a porta do quarto, devagar.
Lá dentro, em cima da cama decorada com um lençol azul como o céu, ela adormecera agarrada a uma fotografia; ainda da porta, ele ficou a admirá-la... A camisa de noite branca que cobria metade das pernas, os joelhos ligeiramente dobrados, os pés, desprotegidos do frio, muito juntos, o cabelo que enfeitava as costas e caía sobre o rosto, as mãos sobre o peito...
Só quando chegou junto dela é que reparou na fotografia!
Não era novidade! Raros eram os dias em que ela não pegasse naquela fotografia onde ela e a prima sorriam para a câmara numa alegria genuína!
Com muito cuidado, agarrou numa ponta e tentou puxá-la mas ela abriu os olhos... Abriu os olhos e sorriu.
- Volta a dormir! - ele aconselhou. - Estava a tentar tirar a foto antes que se estrague.
- Toma! - disse ela enquanto estendeu a mão que segurava o retrato.
Ele pegou no precioso papel e voltou a olhar para o sorriso sincero da prima dela... Um arrepio percorreu-lhe a espinha! Era um arrepio que ele bem conhecia; era o mesmo arrepio que sentia sempre que olhava aquela imagem!
A expressão cerrada que ela agora tinha contrastava com os sorrisos retratados.
- Era como uma irmã para mim - ela disse. - A minha prima.
- Eu sei! Não penses nisso! Não te faz bem! - tentou ele acalmá-la enquanto se sentava na cama.
- É impossível não pensar nisso!
- Já passou tanto tempo!
- Cinco anos!
"Parece que foi ontem", ele pensou.
- É curioso! - ela exclamou.
- O quê?
- Um dos dias mais triste da minha vida foi, simultaneamente, um dos melhores dias! Se calhar é errado dizer isto mas... Foi assim que nós nos conhecemos... No funeral dela!
Ele limitou-se a acenar com a cabeça.
- Ela nunca me falou de ti! - ela continuou. - Era costume contar-me tudo mas nunca te mencionou.
- É natural! Não éramos propriamente amigos nem tão pouco éramos "conhecidos"! Tínhamos amigos em comum, apenas. Talvez tenhamos falado uma ou duas vezes, mais nada!
- E mesmo assim foste ao funeral dela! Muitos colegas da faculdade nem se deram ao trabalho de fazer um telefonema... Mas tu foste ao funeral.
- Ainda bem que o fiz! Afinal, foi lá que nos conhecemos!
Ela sorriu e ele, embora também tivesse sorrido, só lhe apetecia chorar.
Puxando os cobertores, ele disse:
- Agora dorme. Amanhã tens de acordar cedo!
Ela seguiu o conselho dele mas ele ficou a olhar para o tecto...
"Cinco anos!", pensou.
Quando fechou os olhos fez uma viagem ao passado e reviveu cada minuto daquela noite que acontecera há cinco anos.
Estava escuro e a estrada era mal iluminada mas ele sentia-se vivo! Estava completamente sozinho, tanto dentro do carro como fora dele, pois não avistava qualquer outro veículo. Cantava alegre as músicas que o cd tocava mas o cd chegara ao fim e ele não queria ouvir o mesmo, por isso esticou a mão até alcançar a mochila que ocupava o banco do passageiro e retirou uma caixa de um dos bolsos. A caixa, que tinha lá dentro um dos seus cd's preferidos, estava ligeiramente aberta, o que fez com que o cd salta-se e só parasse em cima do tapete. Ele pensou em baixar-se para apanhá-lo mas primeiro olhou para o sítio onde tinha de pousar a mão... Um movimento rápido...E fatal.
O som pesado de uma buzina fê-lo olhar de novo para a estrada e uns faróis luminosos vinham na sua direcção! Ele rodou o volante numa tentativa de voltar à sua faixa mas já era tarde.
O carro que vinha em sentido contrário saíra da estrada e passara por ele a uma velocidade incontrolável só parando na primeira árvore que apareceu.
O choque foi brutal! Passados cinco anos, ele ainda conseguia ouvir o estrondo!
Ele correu!
Correu para ajudar!
Correu para salvar!
Tudo o que encontrou foi uma rapariga na flor da idade que sangrava abundantemente pela boca... O airbag fora incapaz de atenuar os estragos causados; o seu tórax estava esmagado e ela tivera morte imediata.
Ele ligou para o número de emergência e pediu ajuda.
Junto da rapariga morte ele aguardou pela chegada das autoridades a quem disse que ia a passar naquela estrada quando viu o automóvel já acidentado.
Houve uma investigação e a conclusão fora a que ele esperava: não haviam indícios da presença de outro veículo, ou outras pessoas, portanto, o acidente fora causado por distração ou por perda de controlo do veículo.
Ele estava ilibado!
Decidira ir ao funeral em cima da hora! O peso que transportava na consciência não deixava que os seus pensamentos fossem claros mas decidiu prestar-lhe uma última homenagem! Ele teria de ver o sofrimento dos familiares e amigos, ele teria de ver os rostos fechados, as lágrimas... E pensar: "fui eu!"!
No final da cerimónia, as pessoas saíam do cemitério umas atrás das outras mas uma rapariga teimava em manter-se junto da campa. Ele queria pedir desculpas à inocente que tinha morrido mas não podia fazê-lo enquanto ela ali estivesse.
Aos poucos o cemitério ficou vazio. Restava ele e ela...
Ela continuava a olhar para a campa com as lágrimas a cair-lhe pelo rosto sem qualquer esforço e ele já desistira de ficar ali.
Foi então que ela perguntou:
- É colega da faculdade?
Ele, mentindo, acenou afirmativamente.
O braço dela pousou no corpo dele e fez com que as memórias do passado desaparecessem.
- Tenho um segredo! - ele confessou.
- Também eu! - respondeu ela, mais a dormir do que acordada. - Amo-te! Mas isso não é segredo!
E, sorrindo, adormeceu.
nota: texto de ficção criado por mim para a "Fábrica de Histórias"
Hello - Evanescence
Playground school bell rings again
Rain clouds come to play again
Has no one told you she's not breathing?
Hello I'm your mind giving you someone to talk to
Hello
If I smile and don't believe
Soon I know I'll wake from this dream
Don't try to fix me I'm not broken
Hello I'm the lie living for you so you can hide
Don't cry
Suddenly I know I'm not sleeping
Hello I'm still here
All that's left of yesterday
(imagem retirada da internet)
Elsa chegou a casa num corrupio... Enquanto estacionava o carro, só conseguia pensar no trabalho que a esperava.
- Hoje é sexta-feira - disse para si - Vou mas é descansar um pouco, dar um jeito a este cabelo, pintar as unhas com outro verniz e mais logo tratarei da papelada.
A "papelada" nada mais era do que um monte de informações, fotocópias e processos... Elsa era advogada e estava agora encarregue daquele que parecia ser o caso da sua carreira, por isso, tinha de concentrar a sua força e atenção... E isso não aconteceria se não estivesse relaxada!
A ideia de um longo banho quente não lhe saia da cabeça e nem reparou na quantidade de papel que ocupava a sua caixa de correio mas, ao subir mais um degrau das suas escadas, houve algo que lhe chamou a atenção.
O vento que corria em todas as direcções fazia com que um folheto publicitário batesse na caixa de correio e Ela voltou para trás.
- Tanta coisa!
Mal entrou em casa, coreu para a banheira e meteu a água a correr. Só depois se deu ao trabalho de olhar para a correspondência... Era o mesmo do costume:
Um folheto de um hipermercado; outro folheto de outro hipermercado.
Um folheto de uma loja de electrodomésticos; outro folheto de uma loja de artigos para o lar.
A conta da água, a conta do gás, a conta da electricidade.
- Mas estes gajos lembram-se de enviar as contas todas ao mesmo tempo? - barafustou.
Entre folhetos de promoções e a conta do telefone, estava um envelope diferente...
De um amarelo torrado e mais pequeno do que os outros, aquele envelope trazia consigo o mistério do remetente.... Apenas o nome de Elsa e a sua morada ilustravam o papel.
Sem pensar na água quente que caía na banheira, sem pensar no vento gelado que assobiava fora daquelas paredes, Elsa abriu a carta com cuidado... Mil e um pensamentos gritavam na sua consciência e não resistiu a sentar-se no chão quando começou a ler.
"Querida Elsa,
Dei muitas voltas até decidir o que aqui escrever; primeiro pensei em começar com os cumprimentos habituais e o cliché do "como estás?", mas neste momento o que me importa é saber que tens este papel na mão e que o meu coração está nele.
Desculpa! Isto é sincero! Desculpa aquilo que te fiz passar!
Desculpa o meu virar de costas tão repentino!
Desculpa o silêncio destes anos todos que passaram!
Agora sei que deveria ter lutado mais por nós! Tu sempre deste o que tinhas e o que não tinhas e eu, tão mal habituado, não soube dar-te o valor que tanto merecias!
Já deves ter ultrapassado (desculpa-me também por levar-te ao passado) mas eu precisava de dizer-te tudo o que ficou por dizer! E queria, acredita que queria, dizê-lo cara-a-cara... Talvez, um dia, isso seja possível.
Nunca consegui esquecer-te da maneira que desejava... Quis deixar-te nas memórias mais escondidas, quis deixar-te no canto mais longínquo do meu coração, quis que fosses apenas mais uma pessoa na minha vida, mas o sentimento que tive por ti continua comigo e posso afirmar com toda a convicção que te amo tanto hoje como amei nos tempos inesquecíveis que passámos juntos.
Fui um parvo! Fui um menino mimado que fugiu assim que apareceu o primeiro problema! Eu sei que me perdoaste, embora não tenhas esquecido! Eu sei que sempre tiveste o dom de dar uma segunda oportunidade! Eu sei que não guardas rancor!
Deves estar a perguntar o porquê desta carta.
Finalmente percebi as dimensões do meu erro e, por muito que eu queira abraçar-te, beijar-te, tocar-te, não posso simplesmente aparecer à tua porta como se nada tivesse acontecido e gritar: Estou aqui!
Já não sou assim tão egoísta! Já não sou tão egocêntrico!
Não sou ninguém para aparecer do nada e esperar que me recebas de braços abertos... Por isso decidi escrever-te (mesmo sem saber se esta continua a ser a tua morada).
De tudo o que tenho para te dizer, resumo em duas simples palavras:
DESCULPA!
Por tudo.
OBRIGADA!
Por tudo.
Tu foste (e és) um verdadeiro anjo e eu quero que nunca te esqueças dos sorrisos que me provocaste.
Um beijinho do tamanho do mundo,
Carlos."
Elsa limpou as lágrimas que lavavam as suas faces e releu cada uma daquelas palavras.
- Porquê, Carlos? Porquê, agora?
A carta tinha a data de há quinze dias e Elsa ainda estava indecisa se deveria ou não entrar em contacto com Carlos.
Após alguns momentos a ponderar, resolveu procurar o número de telefone da casa da mãe dele para apenas ter a oportunidade de dizer-lhe que recebera a carta e que não valia a pena pensar mais no passado; ele poderia continuar com a sua vida sem sentimentos de culpa, há muito tempo que estava perdoado!
Os números foram marcados com cuidado para evitar enganos e a espera até alguém atender pareceu demorar horas.
- Estou, sim? - alguém disse.
- Dona Maria, é a senhora?
- Sim! Quem fala?
- É a Elsa!
- A Elsa?
- Aquela que namorou com o seu filho!
- Ah menina! Como estás? É tão bom ouvir-te!
- Estou bem, obrigada! O Carlos está por ai? Precisava mesmo de falar com ele!
- O Carlos não está, minha filha. Tu ainda não sabes?
- Não! Não sei de nada!
- Oh minha querida, o Carlos morreu na semana passada!
- Morreu?! - perguntou Elsa com a voz sumida.
- Ele tinha cancro e não sobreviveu.
Elsa despediu-se com a mesma voz sumida e dirigiu-se à casa de banho onde a água continuava a correr; com os olhos a arderem por causa das lágrimas que caíam sem tréguas, ela sentou-se no chão e apertou com força as últimas palavras que ele escreva.
- Eu perdoei-te! - sussurrou.
nota: texto de ficção criado por mim para a "Fábrica de Histórias"
Eu estava na estação de comboios alheia ao que passa à minha volta. A confusão era tanta que eu mal percebia os meus pensamentos...
Jóga - Bjork
All these accidents that happen
Follow the dot
Coincidence makes sense
Only with you
You don't have to speak - i feel
Emotional landscapes
They puzzle me
Then the riddle gets solved
And you push me up to this
State of emergency
How beautiful to be
State of emergency
Is where i want to be
All that no-one sees
You see
What's inside of me
Every nerve that hurts you heal
Deep inside of me
You don't have to speak - i feel
Emotional landscapes
They puzzle me, confuse
Then the riddle gets solved
And you push me up to this
State of emergency
How beautiful to be
State of emergency
Is where i want to be
State of emergency
How beautiful to be
Emotional landscapes
They puzzle me
Then the riddle gets solved
And you push me up to this
State of emergency
How beautiful to be
State of emergency
Is where I want to be
(imagem retirada da internet)
Eu estava sentada no mesmo banco do mesmo jardim que visitava todos os dias mas aquele dia era especial, era diferente! Não estava calor, aliás, o frio quase que congelava os ossos e as poucas pessoas que por ali se passeavam usavam casaco por cima de casaco.
Ela estava sentada no banco atrás do meu... As nossas costas quase se tocavam. Era costume ela estar por ali aquela hora do dia, tal como eu, e embora não soubéssemos nada uma da outra, já éramos "velhas conhecidas".
A hora do almoço acabou e eu só conseguia pensar na tarde atarefada que me esperava mas foi então que ouvi as vozes que soavam no banco onde ela estava.
- Estava a ver que não vinhas! - disse ela.
- Desculpa! Sabes como são os dias nesta semana de Natal; o trânsito está caótico.
Por cima do ombro vi aquele rapaz que se sentara ao lado dela, eu não o conhecia; ela sempre se sentara sozinha, tal como eu.
- Não faz mal, Ricardo. Temos a tarde por nossa conta.
Ele chamava-se Ricardo.
- Queres ir para outro sítio? Está frio aqui... Muito frio!
- Não, Ricardo! Gosto disto aqui! É calmo, é tranquilo, está frio mas mesmo assim é bom estar aqui. Sabes o que isto me faz lembrar? Os nossos passeios naquele lago perto da casa dos teus pais, lembras-te?
- Oh Mónica, como poderia não me lembrar?
Ela chamava-se Mónica.
- Começas tu ou começo eu? - perguntou ele.
O silêncio que se instalou prometeu uma daquelas conversas que ninguém mais deve escutar... Mas eu estava ali, já estava ali antes de ele chegar e, sinceramente, eles não pareciam importarem-se com isso.
- Sabes, Ricardo, eu pensei bem... Vi e revi cada um dia destes últimos meses e cheguei à conclusão de que é normal!
- Normal?
- Sim! A Carla anda sempre a falar na crise dos sete anos... Eu acho que nós tivemos a crise dos sete meses.
Ele agitou-se! Por cima do ombro vi que ela aproveitou para se chegar mais para ele.
- Não sei se te serve de muito vires com esse tipo de desculpas, agora. Foste tu que me puseste fora de casa, não foste, Mónica?
- Sim, fui! E estou muito arrependida!
- Fazes ideia daquilo por que passei? A humilhação que foi e continua a ser? Estou inocente, percebes? Inocente!
A voz dele estava calma! Calma como aquele dia de Inverno!
- Eu sei, Ricardo! Desculpa! Sabes como eu sou; sempre actuo sem pensar nas consequências e aquilo que se passou foi demasiado mau...
- Não! Não foi demasiado mau! Tu é que tiraste as conclusões que quiseste tirar e nem sequer me deste a oportunidade de explicar! Mas sabes que mais? Acho que não mereces qualquer explicação!
- E que tal veres pelos meus olhos? Põe-te no meu lugar! Só desta vez, põe-te no meu lugar! Peguei no teu telemóvel e vi uma mensagem daquelas... O que querias que eu pensasse?
- Pensasses o que quisesses mas poderias ter-me dado o benefício na dúvida, não? Não quiseste ouvir-me... Nem sequer quiseste saber se aquilo era mesmo verdade! Leste uma mensagem que fora enviada para mim por engano...
- Eu sei disso! Sei disso, agora!
- Sim, agora sabes disso mas não quiseste saber na altura! Começaste logo com as tuas coisas, os teus palpites, as tuas desconfianças!
- Eu sou assim!
- E que culpa tenho eu? Ah?! Diz-me! Que culpa tenho eu?
- Desculpa!
- Só isso não chega!
- Foi muita coisa junta! A Carla diz...
- A Carla isto... A Carla aquilo... Quando é que deixas de ouvir a Carla? Lá por o marido dela ser o sacana que é, não quer dizer que os outros também o sejam!
- Desculpa, Cadinho!
"Cadinho"? Deve ser o diminutivo de Ricardo!
Eu tinha tantos planos para aquela tarde! O Natal estava à porta e tudo aquilo que o envolve estava por fazer... Queria ir embora, juro! Mas fiquei presa ao banco, fiquei presa aqueles dois seres que estavam mesmo atrás de mim...
O silêncio prolongou-se.
Uma rajada de vento fez algumas folhas levitarem e, por momentos, pareceu-me que o vento cantava uma daquelas canções que nunca ninguém antes ouviu.
As pessoas agarravam os gorros, os chapéus, o que quer que fosse que servia para aquecer a cabeça, e apertavam mais os seus casacos.
O vento soprava, soprava e as nuvens dançavam no céu azul que se estendiam por cima das árvores... O dia irradiava a luz de mil sóis.
- Não sei como fazes isto! - exclamou Ricardo.
- O quê?
- Depois de tudo o que me fizeste e de tudo aquilo que eu sei que me irás fazer; continuo a amar-te como amava naquela noite em que me ajoelhei à tua frente e te pedi em casamento!
Os suspiros dela diziam-me que as lágrimas estavam a ser contidas... Mas não por muito mais tempo.
- Vou mudar, Ricardo! Prometo!
- Mudar? Mas eu gosto tanto de ti assim, como és!
Ela deixou que as lágrimas caíssem e, sempre por cima do ombro e como quem não quer a coisa, vi os braços dela a apertarem o pescoço dele com uma força delicada.
- Nasce aqui um novo capítulo? - Ricardo perguntou.
- Nasce uma nova história!
Ele acolheu-a nos seus braços.
- Mónica! Mónica! Dás cabo de mim!
- Preciso de ti inteiro... Até porque vais ser pai!
Levantei-me com um grande sorriso nos lábios e deixei-os com a paz daquela novidade que ela revelara.
Caminhei rumo à minha vida mas não mais pensei nas tarefas que tão bem tinha planeado... Em vez disso peguei no telemóvel e liguei para aquele número que sempre ocupava a lista de chamadas.
- Estou! - ele atendeu.
- Amor, sou eu! Tenho tantas saudades tuas...
nota: texto de ficção criado por mim para a "Fábrica de Histórias".
(imagem retirada da internet)
Sozinha… Estava sozinha
No seu quarto e em todo o mundo
Naquela enorme cama fria
Na sua vida, no seu infortúnio
Da janela via a neve a cair
E as luzes que anunciavam o Natal
Mas ela não o queria sentir…
Era só mais uma época banal
Com passos leves e o cabelo apanhado
Deixou tudo para trás, deixou o quarto
Sem querer olhou e viu… O calendário
Era dia de magia, era dia vinte e quatro
Desceu as escadas, sem vontade
Degrau após degrau, com leveza
Iria ela a caminho da verdade?
Ou esbarraria na eterna incerteza?
Foi então que ouviu alguém dizer:
- Mostro-te o quanto estás errada!
O susto quase a fez desfalecer
Ficou com a respiração cortada
- Vem! Não tenhas medo
Não quero nem vou te magoar
Sou um simples mensageiro
Com uma palavra para te dar!
Ela estava parada, quieta, assustada
A sentir as batidas do seu coração
De onde viria aquela voz adocicada?
Do tecto, do canto, da parede, do chão?
Ela não o via, não sabia o que pensar
Estaria ela na sua cama a dormir?
Estaria a enlouquecer, estaria a sonhar?
Mas ela sabia que o estava a sentir.
Ela sabia que estava ali alguém
Não tinha dúvida quanto aquela presença
Como era possível? Não via ninguém!
Mas a voz… Na voz notou uma parecença
Uma estrela cadente passou; foi magia
E o brilho reflectiu o impossível de se ver
Ali naquela sala estava o homem da sua vida
O mesmo homem que dias antes vira morrer
O frio fugiu, foi o espanto que o escondeu
Veio uma nova esperança, chegou o calor
O desejo pelo abismo assim se perdeu
E o coração abriu-se, ofuscou-se a dor
- Não é possível! Não pode ser!
- Sou eu! Não tenhas medo de mim!
- Não! Devo estar a enlouquecer!
- Isto não tem de ser o teu fim!
O tempo parou! Já era dia vinte e cinco
Ela não acreditava no que estava acontecer
Mas sabia que havia algo de esquisito
Não poderia ser ele, ele deixara de viver!
- Sou eu! Dá-me a tua mão!
Ele pediu e ela obedeceu
Sentiu o toque no seu coração
E o mundo estremeceu
Sim, era ele que a olhava
Era ele que agora sorria
Ela apenas chorava
Ela por ele morreria
A neve caía, caía sem parar
O relógio contava o tempo
Palavras e lágrimas no ar
À volta de um grande tormento
Ela não sabia o que dizer
Era impossível ele estar à sua frente
Mas ele olhava para ela sem sofrer
Seria a morte o seu presente?
Juntos lembraram um acidente
Um acidente que fora fatal
Um acidente que a deixou descrente
Um acidente a poucos dias do Natal
E agora ela vivia na esperança de partir
No seu mundo mais nada faria sentido
Ele morreu e ela quis morrer a seguir
Na sua vida o amor ficara perdido
Mas ele estava mesmo ali, ela sem acreditar
Ele dava-lhe palavras de incentivo
Ela não queria nada daquilo escutar
Mas ele não se cansou, foi exaustivo
- Tens de aceitar, tens de compreender!
Ele disse mas ela não queria…
- Sem ti? Eu sem ti não sei viver!
Ela respondeu e ele sorria…
- Ouve, meu anjo, não te irei abandonar
Eu sou apenas mais uma estrela
Uma estrela que te vai iluminar
Sempre que te sentires pequena
- Mas tu foste e eu fiquei
Eu fiquei aqui sozinha
Quase que sufoquei
Como posso perdoar a vida?
- És forte! Eu sei! Eu conheço-te!
E eu estarei sempre contigo
Quando quiseres adormeço-te
E nos meus braços levo-te comigo
- E quando eu acordar?
- Será um novo dia!
- Comigo tu vais estar?
- Nunca te deixarei sozinha!
Mais uma lágrima que ela deixou cair
Mais uma dor que saiu do seu coração
Ela queria acreditar no que estava a ouvir
Queria acreditar com toda a devoção
Ele estendeu os braços para a abraçar
E ela caminhou para ele com determinação
Um trovão fez a electricidade falhar
Deixou de o ver, desaparecera na escuridão
As luzes voltaram a fazer-lhe companhia
Aquela sala nunca lhe parecera tão enorme
Estava de novo num cenário sozinha
Mas lembrava-se das palavras… Ela era forte
Olhou para a árvore enfeitada
A árvore que estava esquecida
E viu uma caixa embrulhada
Uma caixa que ela não conhecia
Desembrulhou com cuidado
Desembrulhou apavorada
E qual não foi o seu espanto
Ao ver o que a caixa guardava
Um lindo anel brilhava intensamente
A fazer-lhe companhia estava um cartão:
“Olá, meu anjo, não esqueci o teu presente
Estás sempre comigo e eu estou no teu coração
Por isso vive alegre, vive sem sofrer
Vive, meu anjo, eu continuo a te amar”
Ela colocou o anel e sentiu-se a viver
E abriu os braços ao que a vida tinha para dar.
nota: texto de ficção criado por mim para a "Fábrica de Histórias"; não era suposto ser escrito em quadras.
Breathe No More - Evanescence
I've been looking in the mirror for so long,
That I've come to believe my soul's on the other side.
All the little pieces falling, shattered.
Shards of me too sharp to put back together.
Too small to matter,
But big enough to cut me in to so many little pieces if I try to touch her.
And I bleed. I bleed.
And I breathe. I breathe, no more
I take a breath and I try to draw from my spirits well.
Yet again you refuse to drink like a stubborn child.
Lie to me convince me that I've been sick forever.
And all of this will make sense when I get better.
But I know the difference between myself and my reflection.
I just can't help but to wonder which of us do you love.
So I bleed. I bleed.
And I breathe.
I breathe no,
Bleed. I bleed.
And I breathe. I breathe. I breathe. I breathe, no more.
(imagem retirada da internet)
Era uma vez uma menina que todas as noites do mês de Dezembro se sentava numa pequena cadeira de madeira e ficava a admirar a rua. Com o seu casaco branco de lã e com um coelho de pelúcia na mão, a menina via as casas dos seus amigos cheias de luzes brilhantes de todas as cores; ela nunca tinha visto, mas sabia que dentro de cada uma dessas casas existia uma árvore enfeitada com bolas, bonecos, fitas de todas as cores e mais luzes que piscavam… Era a Árvore de Natal!
- Mãe, porque não temos uma árvore de Natal?
Mas a mãe estava demasiado ocupada a tratar do bebé.
- Pai, porque não temos árvore de Natal?
Mas o pai tinha adormecido em frente à lenha que crepitava na lareira.
Naquela noite, a menina sonhou que se encontrava numa floresta de árvores de Natal onde todas as cores do mundo se juntavam dentro de pequenas luzes e piscavam, cintilavam, ligavam e desligavam ao som de uma música que a menina não conhecia… Foi o seu melhor sonho!
De manhã, antes de sair de casa, a menina vestiu o seu casaco branco de lã e saiu para a rua; estava frio, estava sempre frio naquela altura do ano, e as luzes já não piscavam, apenas existiam fios verdes em volta dos alpendres e dos jardins.
- São estes fios que escondem as cores que eu vejo quando o sol vai dormir – disse a menina, baixinho.
O Natal passou, veio mais um ano… Mais um Natal que chegou.
Da janela da cozinha, sentada na mesa cadeira, com o mesmo casaco branco de lã e com o seu coelhinho de pelúcia, a menina via os seus amigos que ajudavam os pais naquela que parecia ser uma dura tarefa…
Fios para um lado, fios para o outro lado…
De repente todas as casas pareciam libertar magia e mais uma vez as luzes brilhantes que piscavam voltaram a acender.
- Porque não temos árvore de Natal?
A pergunta foi feita para o ar. A menina sabia que nunca ninguém lhe responderia a isso, ou então diziam “isso é coisa de rico” e coisas assim! Ela não compreendia…
Os anos foram passando e a menina cresceu!
Um dia, quando ela já era crescida, entrou numa loja e viu uma bonita estrela amarela; ficou encantada…
Ela gostou tanto, tanto, tanto mas tanto da estrela que não resistiu a pegar-lhe; viu de um lado, viu do outro, e achou-a perfeita!
- Posso ajudar? – perguntou-lhe uma empregada que se encontrava ali por perto.
- Não, não! Não se incomode! Eu gostei imenso desta estrela, acho que vou comprá-la.
- Faz muito bem! Quer saber o segredo que essa estrela guarda?
- Segredo? – perguntou a menina.
- Ora veja!
E a menina viu…
A empregada tirou um fio da caixa onde a estrela estava pousada, muito cuidadosamente ligou uma extremidade desse fio à estrela e a outra extremidade foi ligada a uma tomada de parede.
Como por magia, uma infindável e inexplicável magia, a estrela deixou de ser amarela e transformou-se numa mistura de cores que piscavam ora aqui, ora acolá.
A menina ficou incrédula!
- É bonita não é? Faz-me lembrar a aventura que era ajudar o meu pai a decorar a casa e a árvore de natal – confidenciou a empregada.
A menina estava enfeitiçada! Todas as cores que ela via da janela da sua pequena cozinha estavam ali, na sua estrela. Então não quis saber de preços, embora tivesse pouco dinheiro; não quis saber do facto de não ter uma árvore onde pousar a estrela… Finalmente, o mistério das luzes que piscavam seria seu!
De volta à sua casa, que já não era na mesma rua nem era dos seus pais, porque a menina já era crescida, ela recordou todos os natais que passava a perguntar-se por que motivo não poderia ter luzes que piscam e uma árvore enfeitada. Ela recordou todas as vezes que se sentava na cadeira com o seu coelhinho e, vestida com o mesmo casaco branco de lã, ficava a admirar a sua rua. Lembrara-se de todos os pormenores mas faltava uma coisa… Ela não sabia dizer ao certo quando deixou de acreditar na magia do Natal!
- Está decido! Este Natal vai ser diferente! – pensou.
Quando entrou na sua pequena casa, a primeira coisa que fez foi correr para o quarto e pegar na lata onde guardava o dinheiro que, a esforço, conseguia poupar; no dia seguinte voltou à mesma loja e comprou um pinheirinho solitário que só estava ali por ser tão desajeitado e pequeno… Todos os outros pinheiros, os grandes e bonitos, tinham esgotado num abrir e fechar de olhos, mas a menina não queria saber desses pormenores, ela apenas queria um pinheiro que pudesse enfeitar!
E assim foi… Depois do pinheirinho, vieram as fitas, as bolas e um pequeno emaranhado de fios decorados com imensas luzinhas.
O resultado final não poderia ser melhor! Finalmente a menina tinha a sua árvore e, sem esquecer, a estrela onde as cores todas do mundo dançavam e piscavam.
Nunca mas nunca mais, a menina deixou de festejar o Natal!
- Avó, conta mais! – pediu a criança que não parava de pular em cima da cama.
- Não, netinha! A história acaba aqui! Já são horas de dormir!
- Mas… Nem sequer me falaste dos presentes que a menina recebeu!
- Oh minha querida, naquele tempo os meninos não recebiam presentes como agora.
- Naquele tempo?
- Sim, pequenina! Vá, agora são horas de sonhar!
A criança deitou-se sem protestar e adormeceu assim que a avó lhe deu um carinhoso beijo no seu pequeno nariz.
A avó, que tinha sido menina, dirigiu-se ao seu quarto e tirou uma caixa que escondia debaixo da cama; fechou os olhos por momentos e abriu o pequeno tesouro… O seu casaco de lã já não era tão branco como fora outrora e o seu coelhinho de pelúcia sorria para ela.
nota: texto de ficção criado por mim para a "Fábrica de Histórias"
Quando ela acordou naquela manhã não tinha esperanças de ver a luz do dia; o que desejava era aquilo que há muito se tornara na sua rotina: deixar-se ficar na cama, cedendo aos caprichos do seu corpo doente.
Mas ela acordou naquela manhã e algo mudara…
Estava sozinha num quarto demasiado grande para a insignificância que se sentia ser.
Em cima de uma cadeira, daquela cadeira que sempre ali estivera, o seu robe repousava devidamente dobrado, foi então que ela reparou numa papel, um pequeno papel, que decorava a cadeira.
“Veste-me!”, estava escrito.
Com os pés quentes a pisarem o chão gelado, ela obedeceu à ordem escrita.
Ia voltar para a cama quando viu… Colada à porta com fita-cola, e quase a descolar-se, estava uma rosa e o respectivo bilhete:
“Segue-me!”
Ela saiu do quarto, agasalhada como quem vai entrar no branco da neve; o corredor, que sempre fora tão escuro, tinha o chão decorado com pétalas de rosa e lá longe, na maçaneta da porta principal, mais um bilhete se avizinhava.
“Abre-me!”
E ela abriu!
- Só mesmo tu! – disse.
Ele olhou para ela e sorriu com aquele sorriso capaz de derreter o maior dos icebergs.
- Pensei em tomarmos o pequeno-almoço fora de casa. – confessou.
- “Fora de casa” é cenário que me agrada!
Deram as mãos e caminharam rumo à floresta que começava a poucos metros de casa.
O vento não era forte mas corria uma brisa capaz de adivinhar o frio que em breve se faria sentir. As árvores agitavam-se como quem dança ao som de um silêncio que canta uma canção vinda algures do coração. Não se ouviam os passarinhos que por muitas vezes lhes fizeram companhia naqueles passeios, não se viam os pequenos animais que costumavam correr pelos arbustos que cresciam sem parar… Eles estavam completamente sozinhos… Não fosse a sombra que sobre eles pairava naquele dia.
- Como te tens sentido? – perguntou ele.
- Nada mudou!
- Nada?
- Nada!
- Temos pensar em…
“Temos de pensar em…” e ela deixou de ouvi-lo. Conhecia as palavras, Conhecia as suas ideias, era capaz de ler os seus pensamentos… Mas ela não queria pensar em nada. Acabou! Porque é que deveria lutar contra a corrente? O cancro venceu!
- Esquece! – disse ela, por fim, interrompendo o que para si fora um período de silêncio e onde ele tinha traçado cenários e planos de tratamentos e curas.
Ele respirou fundo! Nada mais poderia ser tão doloroso como a desistência… A desistência que o fazia sentir incapaz e inferior.
Chegaram.
A cabana, que tantas histórias tinha escutado, estava nas mesmas boas condições como há cinco anos atrás.
- Não acredito! – ela exclamou.
As pétalas de rosa cobriam o chão e alguns dos cobertores que por ele estavam espalhados. A bandeja com o pequeno-almoço figurava no canto mais próximo.
Ele sentiu uma súbita vontade de chorar… Ver aquela alegria era algo a que não estava habituado!
Mas ele tinha de ser forte! Forte pelos dois…
Comeram o pão com manteiga, beberam o sumo de laranja e o café quente, e deixaram-se estar por ali.
A chuva chegou de mãos dadas com o vento mas nada os poderia incomodar… Longe da grande casa e nos braços um do outro, nunca antes se sentiram tão em casa como naquela manhã.
Ela aproveitou o momento para reviver as histórias e os caminhos que os uniram; desde a escola até à separação quando foram para a Faculdade, do reencontro até aquele dia. Ela sempre se tinha sentido abençoada e nada do que lhe acontecera retirara essa ideia.
Ele pensava nos planos que fizera… Nas viagens que imaginara fazer com ela, nos lugares que queria conhecer e nos lugares que já conhecia mas que queria mostrar-lhe.
Ele sempre se pensara capaz de superar qualquer barreira mas tinha a certeza de que os tempos difíceis ainda estavam para vir.
Ela adormeceu nos seus braços enquanto que ele acariciava o cabelo que crescia a ritmo lento… Ela sempre tivera o cabelo comprido.
- Demasiado comprido! – queixava-se ela, de vem em quando, na brincadeira.
Mas agora o cabelo quase nem existia.
Ele deixou as lágrimas saírem, chorava sempre sem ela ver…
Ele tinha se ser forte! Forte pelos dois…
- Tiago? – ela chamou.
- Miriam? – ele respondeu.
- Promete-me que serás feliz.
Silêncio.
- Promete-me! – implorou-lhe. – Preciso ter alguma paz.
- Vamos para dentro?
- Não! Eu não vou a lado algum.
Ela não quis ser arrogante e, na verdade, não o foi. A sua voz soava fraca e docemente.
- Miriam!
- Promete-me! – pediu-lhe pela última vez.
Ele deixou de ser forte e chorou como nunca chorara antes.
- Prometo!
E ela sorriu.
- Mudaste o meu mundo – disse-lhe quase, quase inaudível. – Mudaste o meu mundo para muito melhor.
Ele continuava a chorar agarrado ao seu corpo…
Ela sorriu e deixou-se acolher pelos anjos.
- “O Nosso Mundo”? – perguntou alguém.
- Sim. – Tiago respondeu. – O mundo é nosso, vamos fazer alguma coisa por ele.
- Estás bem?
- Sim, Ricardo, estou óptimo.
- Faz hoje dois anos.
- Achas que há melhor forma de assinalar a data?
- Não, Tiago.
meu blog na revista brasileira de música
o estranho caso de benjamin button
o que aqui revelo é para ficar entre nós